Ontem eu estava assistindo a abertura do PAN 2011, em Guadalajara, vocês sabiam que está rolando o PAN de 2011? Não? Voces estão vendo a Globo demais gente! O PAN está sendo exibido pela Record, que não é santa, nós sabemos, mas, que vergonha a Globo não dar cobertura alguma ao PAN 2011.
Essa mesma Globo (e suas coligadas) tem feito literalmente convocações para os protestos contra a corrupção, felizmente com resultados ridículos.
Para a turma que está organizando estes protestos, o povo brasileiro não protesta, não chia, não participa. Mentira. É só ver os protestos contra os maus serviços públicos (como os trens e hospitais) e marchas como no caso dos Bombeiros, que a própria Globo tratou no inicio de “queimar”, sem sucesso, sendo um de seus mais recentes fracassos políticos. O mesmo fez contra os professores em greve em MG (110 dias, não sabiam?).
Vamos lembrar que a Globo fez o possível para não noticiar a campanha das Diretas Já, nos anos 80, apesar das multidões que lotavam avenidas e praças, muito, mas muito maiores que essa que ela tem conseguido juntar. Porém, mais tarde, ela explorou a indignação popular contra Collor, que ela colocou no poder, incitando os jovens nas marchas conhecidas como “dos caras-pintadas”.
Para a Globo só valem aqueles movimentos que ela ajuda ou organiza nos bastidores, ou que atacam aqueles que ela gostaria de atacar. É curioso como, depois de feita a passeata, os organizadores somem dos facebooks da vida, deixando os simpatizantes na mão.
Quem anda muito tiririca com isso são os partidos de esquerda, que sempre se acharam donos da verdade e que sempre foram os mobilizadores populares contra o sistema. Acontece que, de fato, vários grupos, como a UNE, estão cooptados pelo PT e por outros partidos. O impedimento que os grupos de protesto fazem contra a presença de bandeiras ou mesmo políticos nas marchas tem irritado estes partidos e lançado questões sobre o caráter fascistas destes protestos.
Sim, a História tem exemplos para contar sobre como os donos do poder manipularam sentimentos de indignação do povo contra os partidos políticos e a política, movimentos que começaram puros ou realmente manipulados, e descambaram para a onda fascista.
A Globo há tempos vem se oferecendo para a população como um canal de manifestação, de cobrança, ela se faz de partido político, sem mandato e sem regras a cumprir, não temos como dar impeachment na Globo. Ao oferecer espaço para o povão e para os especialistas (amigos) falarem, ela ganha credibilidade e adesão, fundamental para dois objetivos: continuar sendo o melhor canal de vendas (ninguém compra de mentiroso, mas de quem parece confiável), mesmo que a venda de coisas roubadas, lotes ilegais, carro ruim, propaganda enganosa, prostituição, etc. Segundo motivo: como uma igreja, ela congrega em torno de si uma multidão de devotos e usa isso para pressionar os políticos e os governos.
Esse é talvez o objetivo básico hoje: após demolir a credibilidade dos partidos e grupos políticos, de forma generalizada, ela se apresenta como partido sem política, uma força que não exige de você o incômodo das eleições e do acompanhamento. Assim o faz para pressionar os políticos que poderão em breve estar com as mãos no projeto de regulamentação dos meios de comunicação, para votá-lo, ou para enxotar ou destruir empresas rivais – como tentou fazer com a empresa portuguesa que comprou um jornal popular do Rio, ou as maquinações feitas contra a Band, o SBT e a Record.
Esse projeto de regulamentação pretende quebrar várias tretas e mutretas que hoje engordam as empresas de comunicação e as protegem sob o falso argumento da liberdade de expressão. É com base na liberdade de expressão e de informação que essas empresas promovem seus realities shows, suas baixarias na TV e no rádio, sua censura prévia nas redações (vc só fica sabendo o que elas querem publicar) e até seus classificados. O projeto quer quebrar a concentração de meios nas mãos de uma empresa só, péssimo para empresas como a Globo e a Abril (dona da Veja, outra metida com os protestos).
As marchas tiveram como provocação inicial uma matéria de um jornal espanhol, sem expressão alguma aqui, que indagou porque os brasileiros fazem marchas gays, evangélicas e da maconha e nenhuma contra a corrupção. Usar uma provocação vinda de um jornal estrangeiro foi a forma encontrada para dar ares de espontânea e nacionalista a onda de protestos convocada. Outra jogada é defender Dilma contra os políticos, porque é Dilma que tem poder de veto sobre o projeto de regulação da mídia, é Dilma que tem um índice de popularidade que a blinda contra golpismos da imprensa. Defender Dilma é também uma forma de parecer defensor da ordem e da primeira mulher presidente.
Os meios de comunicação estão fazendo experiências psicológicas com a sociedade há tempos, já estão em estudos nos EUA programas para avaliar a atividade em redes sociais e descobrir estopins de greves e revoluções.
Alguém pode pensar: “tudo bem, a Globo e a Abril têm todo o direito de mobilizar seus crentes, como faz a Record, para fazê-los defender planos e ambições” – talvez. Os meios de comunicação estão aí para informar, não para mobilizar, a imprensa tem que informar e não ser golpista. Se a Globo se acha melhor que a Record, não deveria agir como uma igreja ou um partido político.
Então, você é obviamente livre para seguir o “plim-plim”, ou o “ai Jesus”, ou a bandeira vermelha que você quiser. Mas, pense bem, reflita.