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Atrás sempre de um ponto de equilibrio e do desenvolvimente responsavel

30.3.07

31 de Março

Neste dia 31 de Março, alguns brasileiros farão questão de relembrar o Golpe Militar no governo Jango, uns com orgulho, outros com pesar.

Neste 31 de Março de 2007, em meio ao agravamento da crise dos aeroportos, não são poucos os brasileiros metidos nos debates politicos a fazerem especulações com a crise e com o fato de Lula estar fora do país.

Neste momento, dois grupos acirram seus discursos, especulações e provocações: os amigos de Lula e do PT e os adversários. De um lado aqueles que se insurgem contra a "república de sindicalistas" e de outro os que tentam conter os ânimos dos "reacionários de direita".

No meio nós, cidadãos que queremos justiça imparcial, gestão imparcial, responsabilidade geral, atendimentos total às demandas do país e que não vemos a necessidade de tais questões serem tratadas de forma partidária, parcial, tendenciosa, maliciosa.

Esse 31 de Março pode passar desapercebido, como pode ser um marco de uma crise maior.

Eu não quero nada com nenhum dos lados.

26.3.07

Soluções para os danos previsiveis do aquecimento

Diante dos danos esperados pela mudança climática o que nos resta fazer?

São 3 as ações cabíveis:

1. conter a liberação de gases - pela redução drástica na perda de área verde, pelo aproveitamento dos gases gerados pelos resíduos orgânicos (lixo e esgoto) e pela redução drástica da queima de fósseis. A redução da perda de área verde não tem a ver apenas com redução de desmatamento por ações agropecuárias e extrativas, mas também pela especulação imobiliária, isso é extremamente grave em cidades como o Rio de Janeiro.

2. reisolamento do carbono - é necessário retirar o carbono excedente da atmosfera, principalmente aquele oriundo dos fósseis, porque era carbono totalmente fora do sistema, da biosfera, que foi devolvido pelo homem. Enquanto não inventam um processo de captura e reisolamento artificial, a melhor forma é pela via biológica: plantios para produção de madeira ou restauração de áreas florestais, com ganhos outros indiretos.

3. medidas de sobrevivência - a sociedade vai ter que se reinventar. O aumento de temperaturas e de pluviosidade, os extremos meteorológicos, a elevação do nível dos oceanos, tudo isso pede soluções de engenharia, de saúde pública, de comportamento, de reassentamento, etc.

Tenho, por fim que fazer 3 outras considerações:

1. a moda da compensação ambiental pelo plantio de mudas é um exercício, a meu ver, de marqueting e uma brincadeira de mau gosto, isso está pervertendo o sentido da coisa e não serve de muita coisa não;

2. ainda tenho dúvidas se os problemas virão mesmo e se essa mudança é de origem humana;

3. a considerar a realidade atual, me preocupa a sinergia da mudança climática com a crise no serviço público, a indiferença da sociedade e outros tantos caracaterísticos da sociedade brasileira, sem falar dos potenciais riscos de um novo e maior conflito bélico e de pandemias, facilitadas pelas rotas aéreas, frouxidão fiscal em portos, turismo, etc.

A conclusão mais uma vez que tiro é essa: se os que estão realmente preocupados não tratarem do seu quinhão, da sua farinha, serão tragados no mesmo barco dos alienados, enquanto que os malfeitores, enricados pelos seus pecados, arrumarão proteções e abrigos - não confiem tanto na justiça divina, cuidem de suas vidas e dos seus entes queridos, "saiam de Sodoma e Gomorra" e deixem os abomináveis para trás...

14.3.07

Olhos Cariocas sobre o Aquecimento

Olhos Cariocas sobre o Aquecimento

Nos últimos meses, felizmente, o tema do aquecimento global parece ter batido definitivamente na consciência de muita gente, mesmo que o tema seja controverso para alguns (como eu). No rastro desse despertar está o interesse por saber que conseqüências o aquecimento pode produzir no Brasil.

No caso carioca, até o momento, as matérias jornalísticas e palestras de entendidos se limitaram a prever danos graves na orla, principalmente da Zona Sul – nada mais natural, afinal, para muitos ainda, o Rio de Janeiro é uma cidade limitada a Zona Sul e Centro. Entretanto, o problema vai além, muito além.

Considerando as previsões conservadoras do IPCC - de elevação de meio metro do nível do mar e de elevação de 2oC na temperatura, nesta região, neste século – podemos especular superficialmente sobre o grave cenário dos próximos 93 anos.

A elevação de meio metro no nível do mar, mesmo que gradual, poderá provocar o desmonte da Restinga da Marambaia, seu rompimento e a entrada de ondulação oceânica na Baía de Sepetiba, empurrando as areias para dentro da baía, mais propriamente contra os manguezais de Guaratiba, por sua vez, as lamas dos manguezais serão revolvidas e deslocadas pela baía e para dentro do mar, mas também serão empurradas para as zonas baixas de brejos próximas – todo esse movimento promoverá, no final das contas, a obstrução dos canais e rios que deságuam naquela baía e a expulsão da população residente nas vastas áreas baixas. A manutenção da navegabilidade do porto de Sepetiba ficará mais cara e difícil, as industrias localizadas ali, como o pólo siderúrgico, poderão sofrer problemas de drenagem, o grande tanque de rejeitos da Ingá será rompido e tudo aquilo se misturará com a lama já contaminada da baía.

Praias estreitas e hoje já vulneráveis a variações de maré e correntes poderão sumir, como já foi previsto. O Canal de Sernambetiba, com ou sem o molhe previsto, poderá sofrer represamento, gerando impactos na vida urbana a montante – os bairros do Recreio e Vargem Grande. Conforme nosso estudo preliminar dos impactos ambientais da urbanização na região do Recreio e Vargens, esse problema de inundações já é previsível com o ritmo atual de destruição ambiental em favor da expansão da cidade, então, isso poderá ficar em muito agravado pelas mudanças no mar.

O Pontal de Sernambetiba tornar-se-á uma ilha, a Av. Sernambetiba será rompida em alguns pontos, expondo aterros e molhes de sua construção, o cordão arenoso que separa o mar da Laguna de Marapendi ficará mais estreito. O Canal da Joatinga sofrerá represamento maior, com elevações mais freqüentes do nível das lagoas, o que gerará inundações em comunidades situadas em terrenos baixos, como Rio das Pedras e Anil, com o lodo contaminado refluindo para dentro dos canais e terrenos. A elevação do nível das lagoas prejudicará a drenagem e o esgotamento, condomínios, autódromo, centros empresariais, vias e favelas da grande região de Barra-Jacarepaguá sofrerão com refluxos e inundação – p.ex. a Av. Salvador Allende e Eng. Souza Filho/Est. do Itanhangá.

A elevação do nível corroerá as praias da Zona Sul, seus calçadões e infra-estrutura. A elevação do nível do mar combinada com ressacas fará com que as ondas destruam parte significativa da faixa de areia, com a espuma da arrebentação entrando por ruas e garagens, areia e água entulhando a rede de drenagem e estourando a de esgotamento. Os escombros da destruição causarão prejuízos de demorada reparação. A Laguna Rodrigo de Freitas terá mais freqüentes transbordamentos, com danos de grande monta a infra de lazer e esporte localizada na orla, sem falar nas vias.

O Centro da cidade, assentado sobre precários aterros, sofrerá com refluxos de esgoto e de drenagem, inviabilizando o seu funcionamento a cada chuva, não necessariamente forte. Ruas inteiras ficarão atoladas em lama com séculos de existência, as regiões mais antigas e próximas ao mar sofrerão mais, assim também aquelas localizadas próximas ao Canal do Mangue, como a sede da Prefeitura – vide algumas ruas do Estácio.

Áreas aterradas poderão sofrer recalques de grande extensão, quarteirões inteiros poderão ruir, com graves danos para o patrimônio histórico e os transportes. O Parque do Flamengo, no ponto de deságüe de rios convertidos em valas negras, sofrerá com alagamentos.

A orla do Caju poderá assistir ao refluxo do lixo ali despejado por anos e anos, a lama negra e fétida do Canal do Cunha refluirá, o piscinão de Ramos deixará de existir, favelas imensas, estaleiros e possivelmente a Refinaria de Manguinhos sofrerão alagamentos permanentes e infectos, a Av. Brasil sofrerá graves problemas de drenagem mesmo com brandas chuvas, provocando interrupções de dias. Os rios que vem da Zona Norte sofrerão barramento mais intenso e freqüente, provocando refluxo de esgotos, problemas de drenagem e invasão por lama e lixo nos bairros próximo a foz, como Bonsucesso, Vigário Geral e Parada de Lucas.

A orla da Ilha do Governador terá problemas semelhantes. Os aeroportos Carlos Jobim e Santos Dumont poderão ter problemas de drenagem sérios por ocasião de chuvas. A elevação do nível do mar alterará correntes e ondulação, perturbando a rotina da Baía de Guanabara, o que poderá provocar o rompimento do Aterro de Gramacho, liberando toneladas de lixo e chorume altamente tóxico. A própria Reduc poderá sofrer paralizações por alagamentos. As estações de esgoto do PDBG poderão ser inviabilizadas.

Um enorme contingente de pessoas (favelados e não favelados), sentindo-se ameaçado ou efetivamente prejudicado pelos estragos, será empurrado para as áreas altas e encostas, criando uma colossal pressão de desmatamento e destruição dos parques da Tijuca e Pedra Branca e de invasões sobre imóveis já construídos, abandonados ou não. O quadro de inundações e refluxos mais intensos empurrará também vetores, como ratos e baratas, para um maior e mais perigoso contato com a população.

Com a previsão de um clima mais úmido, as chuvas poderão se tornar mais freqüentes e intensas, o que será um desastre para a geografia carioca, ainda mais considerando esse deslocamento populacional. O sistema de drenagem, mesmo aquele construído corretamente, não terá condições de suportar essa mudança de amplitude. O aumento da carga de sedimentos e de água a cada chuva torrencial aumentará, aumentando a pressão destrutiva sobre a drenagem construída e a drenagem natural. O sistema de abastecimento de água potável sofrerá danos perigosos, rupturas e contaminação. Mais água no sistema e mais calor significam ampliação de condições para epidemias.

A elevação de temperatura e a expansão da urbanização nos moldes atuais agravarão os efeitos do desconforto térmico, atingindo principalmente idosos, crianças e trabalhadores de serviços pesados e expostos ao sol. O desconforto térmico associado à poluição sonora agravará o quadro de irritabilidade e estresse. A erosão aumentada pelas chuvas e o refluxo de lodos infectos criarão, em momentos de estiagem, condições mais favoráveis a doenças respiratórias, de pele e olhos, sem falar em outras doenças, como a leptospirose, por conta da poeira em suspensão. Os problemas de drenagem causados pela carga hídrica além do previsto gerarão problemas na infra-estrutura de energia e comunicação. Temperaturas mais elevadas e estiagem poderão liquidar com os esforços de “compensação” dos gases por meio de plantio de mudas.

As tempestades mais intensas afetarão na mesma proporção o sistema aéreo de energia e comunicação. Enfim, em determinados momentos deste século XXI, o Rio poderá simplesmente entrar em colapso, com falta de energia, de água potável, de comunicação, de transporte e com pressão insuportável sobre o sistema de saúde e segurança. Não vamos aqui descrever os impactos sobre a fauna e a flora, mas apenas dizer que a elevação do lençol freático mais sua salinização em diversos pontos aniquilarão grandes extensões de áreas verdes, naturais ou plantadas.

Tudo isso pode ocorrer considerando-se apenas as previsões conservadoras do IPCC...

Será que, desta vez, nós conseguiremos aceitar a ligação da má conduta pessoal, egoísmo, ganância, demagogia, má gestão e corrupção, com o desastre ambiental e social? Ou continuaremos achando que isso é coisa de moralista, de gente que “quer salvar o mundo”?

Enfim, são especulações superficiais, totalmente vulneráveis a crítica e anulação.


Salvador Benevides