Quem sou eu

Minha foto
Atrás sempre de um ponto de equilibrio e do desenvolvimente responsavel

30.8.07

Suicidio Politico Brasileiro

Dois problemas me afligem como cidadão que participa e ama esse país.

Um, a crescente acomodação da sociedade, representada pela progressão do voto nulo por motivos torpes, pela mania da “ação online” e do predomínio do deboche sobre qualquer alternativa que se apresente no cenário político.

Dois, a trapaça que vem sendo montada a título de se fazer reforma política no país. O que percebo é que se está construindo uma teia legal que concentrará poder, preservará as forças majoritárias e bloqueará o acesso dos cidadãos ao poder oficial.

Pessoas que se consideram inteligentes e com acesso privilegiado a informação – inclusive internet – tem demonstrado crescente gosto pelo voto nulo, como voto de protesto. Ok, mas o voto nulo só serve como protesto daqueles que não gostam de votar, daqueles para quem o voto facultativo seria uma benção, para eles poderem ir pra praia, jogar bola ou ir ao shopping. O voto de protesto dos que estão indignados com a situação do país, com os políticos, tem de ser o voto naquele que todos dizem “é bom, mas não vai ganhar, se ganhar não governará”, é o voto de protesto que pode virar a mesa, realmente. Para piorar, o voto nulo, sendo praticado por quem se diz consciente, favorece os currais eleitorais, os candidatos que compram votos, ou têm suas ovelhas fiéis, porque estes não deixarão de votar. Desse modo, o voto nulo favorece a decadência e anula, de fato, a representação política dos que se dizem conscientes – é um autêntico suicídio político daqueles que se consideram capazes de bem votar.

Outro problema: a mania das “ações online”, que está nos abaixo assinados e nos protestos de orkut, p.ex., os donos do poder já perceberam que esse povo não sai pra rua, não vai bater na porta deles, não move ações judiciais, é uma ação realmente virtual, de mentirinha. Uma masturbação, tanto quanto agir politicamente na mesa do bar com um chope ou uísque na mão...

O terceiro ingrediente é o deboche a tudo e a todos. Rir das desgraças é um traço do brasileiro, porém, rir é ter prazer, oras, se temos prazer com nossas desgraças, como acabar com elas? No final do regime militar, os comediantes temiam a falta de assunto... Os brasileiros reclamam dos atuais donos do poder, dos políticos que já estão mandando, dos chefes dos sindicatos, dos líderes religiosos, dos donos de empresas, dos síndicos! Quando surgem pessoas e instituições alternativas, elas são alvo de deboche, de gozação e descrença – “é mais um querendo nos roubar”, ou “mais um idiota querendo aparecer”. Quem já manda não presta e quem se apresenta como alternativa também não, sobra o quê?

O deboche só não ocorre contra alguém que detem a força e o poder de humilhar ou fazer sentir dor, sem temer a Lei – milícias, traficantes, MST, radicais de todo tipo... é cada dia mais forte a voz por uma nova ditadura ou o uso de meios radicais, ou seja: não participamos, não deixamos participar e ainda por cima abrimos a porta para um regime ou um sistema ainda mais violento e autoritário, porque não queremos assumir nossos compromissos de cidadãos, não queremos cuidar da nossa rua, mas apenas de nosso poder de consumo e prazer – queremos a Lei e a força conosco, pouca farinha meu pirão primeiro, pau nos outros e o paraíso para mim. Queremos ver outros assumindo os nossos deveres, por nós, e eles têm que meter medo na gente, do contrário, são uns merdas em potencial...

O resultado: o sistema vai ficando cada vez mais caótico, de fato, violento, injusto, perverso, a ponto de as pessoas se desesperarem e adotarem medidas radicais e puxarem para dentro do poder indivíduos e grupos radicais...

O segundo grande problema se combina com essa mentalidade descrita: a trapaça política que se forma no Congresso, visando estreitar a porteira de acesso a arena política – poucos partidos, fortes, com verba publica, voto em lista, etc. Nós, assim, caminhamos no sentido oposto da democracia real, onde se tem voto facultativo e onde um individuo pode se candidatar sem pertencer a partido. Com a reforma política que vem sendo arquitetada, estabeleceremos uma ditadura de uma meia dúzia de empresas partidárias, sustentadas com nossos impostos, mas sem nos dar o necessário acesso, teremos de votar nos candidatos delas, eleitos em convenções fechadas.

Esse grande problema fica ainda mais grave quando consideramos os milhares de cidadãos que participam dessa jogatina política, como cabos eleitorais, paus mandados e assessores, e os milhões de brasileiros que de algum modo lucram com a associação em crimes e infrações neste país.

Enquanto a sociedade se acomoda, enquanto outros optam por simplesmente esperar o pior e daí a vinda de um messias tirânico para destruir o mal – fruto da conivência e da acomodação, enquanto os partidos tecem um novo e estúpido regime político-eleitoral, enquanto milhões ganham com fraudes, roubos, mentiras, violências, abusos, enquanto tudo isso ocorre, o país vai naufragando, se dividindo, se favelizando, se “miamificando”, ao sopro das demandas de potências realmente emergentes, esmagado pelas crises e apagões internos, pela guerra civil não declarada.

Nenhum comentário: