Oba oba do Dia da Terra
Neste sábado, 26 de abril, autoridades brasileiras e empresas participaram do Dia da Terra, uma iniciativa da multinacional ambientalista WWF. Monumentos e prédios tiveram luzes apagadas por alguns minutos em favor de um mundo melhor.
Sem ficarmos examinando a WWF ou essa iniciativa, cabe apenas escrever o seguinte:
Enquanto as autoridades brasileiras, municipais, estaduais e federais, junto com empresários, apagam suas luzes por alguns minutos, em nome de um planeta melhor, conduzidos pela iniciativa da municipal ambiental WWF, todos aparecendo muito bem na fita, a verdade permanece:
Ecossistemas são destruídos de forma licenciada, o que dá aos empreendimentos legitimidade, ninguém pode reclamar porque têm licença. As licenças são dadas a partir de análises questionáveis por equipes técnicas mal montadas, mal preparadas, mas subjugadas a chefias comprometidas com os atuais modelos de desenvolvimento – isso quando as licenças não saem diretamente dos gabinetes dos chefes. As licenças são ainda fortalecidas por exigências de compensação ambiental, muitas das vezes ridículas, inúteis, porque os órgãos ambientais não estão preparados para defini-las e executá-las, muitas delas acabam reduzidas a meras peças publicitárias de secretários e ministros de ambiente, e seus projetos eleitorais – travestidas de material educativo. Essa dinâmica está presente em muitas cidades do país, onde a especulação imobiliária e a industria combinam-se com empreiteiras. Nenhum Dia da Terra é capaz de neutralizar isso, nenhuma mobilização charmosa e midiática de ONG tem sido capaz de mudar essa conduta, e não se vê qualquer mobilização neste sentido – mas, quantos agentes de ONGs já não ocuparam em cargos oficiais?
Enquanto as pessoas, as poucas, desligam as suas luzes pela Terra, pela causa defendida pelo WWF, unidades de conservação brasileiras padecem cronicamente de falta de pessoal, de sinalização, de demarcação, de recuperação, de conscientização das pessoas que vivem nas suas vizinhanças, etc. Problemas que permanecem há décadas. Entretanto, quantos milhões de dólares já não foram gastos com projetos baseados na idéia de ajudar as unidades de conservação?
Enquanto você sonha com energias alternativas e forma uma massa de opinião a favor delas, o mercado brasileiro vai sendo conquistado por empresas estrangeiras, algumas bem grandes, dedicadas ao novo ramo, das energias alternativas. Os parques eólicos são todos importados, os painéis solares cada vez mais usados são estrangeiros, a industria nacional agoniza, ou dá pequenos pulos para em alguns anos cair de novo. Até o álcool está cada vez mais estrangeirizado: investidores e empresas de fora estão comprando fazendas e usinas brasileiras. Os brasileiros, como sempre, ficarão com a faxina dos banheiros ou a prostituição nas ruas dos bairros de luxo. Viva o Dia da Terra!
Ambições políticas locais adoram essas oportunidades, de se unirem a campanhas internacionais com entidades famosas, atraindo gente famosa. Será que você já não percebeu ainda como os pop stars da política, daqui e de fora, adoram a causa ambiental? Como é vantajoso empregar um ongueiro famoso num órgão publico ambiental? E os jornais? Que faturam horrores com anúncios imobiliários e propagandas de industrias, dos destruidores, ao mesmo tempo em que abrem blogs falsamente livres, na verdade blogs seus, dedicados a causa verde.
Está demorando muito para termos aqui uma ONG multinacional de combate a corrupção, com artistas de grandes gravadoras e redes de TV e presidentes imperialistas aparecendo como bons moços, pedindo para a gente se negar a ajudar nisso.
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