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14.8.11

Por Que Ninguem Reage


Essa tem sido uma pergunta cada vez mais feita, inclusive fora do país, a respeito do comportamento da sociedade frente os escândalos e estórias de corrupção e mau uso do poder oficial.  Há, de fato, passividade?  É o que parece pela ausência de grandes manifestações publicas, de rua, contra o exército de corruptos e outros malfeitores.

Vamos recuar no tempo até o fim do regime militar, envolto por uma falsa aura de honestidade e patriotismo.  O fim do regime se deu pela combinação de uma massa de escândalos de corrupção, antipatriotismo e abuso de poder, despejados via imprensa pelas forças de oposição, mais as mudanças no cenário internacional que tiraram apoio aos regimes pró-EUA na América Latina, dentro do jogo da Guerra Fria.  A partir de um determinado ponto, os donos do poder não quiseram mais os militares, eles não eram mais uteis.  Abriu-se então espaço para o clamor da oposição, por uma disputa por quem sucederia os militares no comando do sistema. 

A sociedade foi então chamada a colaborar na pressão contra o regime, em favor da democratização.  Tudo seria melhor e a esculhambação teria fim.  Os militares, cada vez com menos espaço de mídia, diziam que eles é que seguravam os abusos, de empresários e politicos.

A transferência de comando do país não pode ser evitada, mas, ela de cara demonstrou ser uma farsa.  Em vez de verdadeiras lideranças populares ou nacionais, seja de que linha fossem, o país foi entregue a políticos sem tal expressão, chefes de currais de estados de pífia ou nenhuma expressão, como o Maranhão e Alagoas, só isso demonstrava a farsa da vivencia democrática, a persistência de velhos esquemas tenebrosos de poder e a obstinação dos donos dele em não permitir a ascensão das esquerdas.

A esquerda, liderada pelo PT, anunciava aos quatro cantos que não tinha rabo preso, que representava a verdadeira fatia progressista do país, desenvolvimento com justiça social e saúde ambiental, e que defendia o verdadeiro nacionalismo e um sistema para todos e não para apenas a elite branca.   O PT soube reunir e usar diversos movimentos sociais, como o feminista, o ambientalista, o campesino, etc. 

As poucas vozes que ousaram contrariar essa impressão messiânica das esquerdas diziam que as esquerdas eram também corruptas e injustas, que provas disso estavam nas administrações dos sindicatos, organizações estudantis e ONGs sociais.  E, se não bastasse isso, seu modelo de administração e decisão (chamado “assembleismo”) não primava pela competência e rapidez, e que uma vez adotado no país levaria o mesmo a paralisia. 

Entretanto, o ambiente político, interno e internacional, mudou e permitiu a ascensão da esquerda representada pelo PT, que conquistou o governo maximo do país, emocionando muita gente, que achou que as mudanças agora realmente viriam.

Quando Lula assumiu o poder com o PT, o primeiro ano de governo serviu como um tremendo balde de água fria, um grande golpe nas esperanças, a ponto de Lula ser acusado de ter praticado estelionato eleitoral, sensação que cresceu ao longo do tempo, por conta das sucessivas denuncias de abuso de poder, corrupção, incompetência, entreguismo, empreguismo, etc.  No auge dos escândalos, Lula demonstrou ser tudo aquilo que as vozes contrárias às esquerdas vinham dizendo há anos: as esquerdas não eram diferentes daqueles que ela acusava.   

Não se pode, contudo, radicalizar.  Pode-se mesmo dizer que Lula fez o possível e que a história um dia contará a verdade, do mesmo modo fará com FHC.  É fato que tanto os adeptos do esquerdismo quanto os defensores da visão de direita acusam Lula e o PT, o estelionato eleitoral parece ter golpeado ambos os pólos ideológicos.

E foi justamente neste regime que a PF atuou bastante, com ou sem ordem do PT.  Nunca se ouviu falar tanto de operações contra corruptos, sonegadores, etc.  Infelizmente, a Justiça não tem atuado a contento, honrando o empenho policial.  Alegam os magistrados e promotores que as leis são ruins e as forças políticas cruéis – leis e forças que são produtos da classe política, dos políticos eleitos pela sociedade.  E aqui começamos a mergulhar na lama.

O que a sociedade brasileira ainda não viu é que tudo isso só se sustenta com seu apoio, com a vivencia da cultura da esperteza, da impunidade, da corrupção, dos muitos abusos, e tudo isso começa em casa e se alastra pelos vários espaços da vida, e daí retornando para dentro de casa.  Todos os governos estão sustentados pelos grupos políticos locais e pelas grandes entidades empresariais. 

Não adianta culpar a herança portuguesa, pois os portugueses saíram do país em 1822!  Só um povo altamente incompetente e cínico pode ficar se escondendo atrás disso.  Não adianta ficar culpando o povão, porque não é o povão que comanda secretarias, ministérios, estatais, empresas e quartéis, que comanda são membros da elite, são pessoas bem instruídas, bem alimentadas, que moram bem, etc.  Não adianta culpar a mídia e as religiões, porque elas vivem do apoio e dos recursos humanos e financeiros que são da sociedade.

Sim, os sucessivos governos civis foram desanimadores, mas, e a nossa parte?

O que fizemos para sustentar os bons?  Quantas vezes abandonamos o justo simplesmente porque achamos que ele não terá chance alguma?  Quantas vezes debochamos do honesto?

A passividade dos brasileiros tem muitas causas: entre os mais pobres, são séculos de eficientes políticas de repressão contra qualquer tipo de organização popular, de auto-gestão, e de favorecimento da conduta servil.  Mas, entre os não pobres, seria apenas o cansaço diante de uma impunidade sempre vitoriosa?  Estaríamos apenas cansados de ter fé, de esperar pela correta conduta do outro?

Olhemos para nós e para os outros, para o nosso cotidiano, nossas rotinas.  Quanto dela revela se somos dignos de dó, ou de respeito?  Quanto do nosso dia-a-dia, do que fazemos e pensamos, nos coloca como merecedores de dias melhores?  E quanto de nossa conduta nos serviria de acusação?  De hipócritas, de cínicos, de cúmplices?  Se tivéssemos o poder destes senhores que acusamos, faríamos melhor?  Seríamos mais decentes?
Eu penso que muito da passividade está em duas causas: Primeira, o desencanto com as forças que deveriam fazer algo, porque têm o poder para isso, mas não fazem, o espetáculo da impunidade e da derrota do justo nos cansou, o sacrifício de tentar mudar isso é muito grande, nos impediria de viver a vida como temos vivido – e, apesar de reclamarmos tanto, ela ainda é boa, pelo menos podemos comprar ilusões de felicidade que nos sossegam o espirito...  Segunda e a meu ver bastante comum, é a cumplicidade de cada um como colaborador ativo deste sistema infame – não reagimos porque, no íntimo, não temos coragem de ir tão longe em nossa hipocrisia, de acusar e combater aqueles iguais a nós, mas que estão lá em cima.  No fundo, nos vemos naquela figura odiada, não estamos cansados de nada, apenas não temos coragem de mudar a nós mesmos e daí o restante.

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